Você sabe o que é o slow fashion e o que ele pode representar para a sua empresa? Bom, se você está aqui, provavelmente está em busca de informações e é justamente isso que vamos fazer neste artigo.
Em um mundo cada vez mais preocupado com o meio ambiente e os efeitos do aquecimento global, milhares de empresas se empenham em oferecer alternativas sustentáveis de seus produtos e serviços. No caso da área da moda, o conceito que mais chama a atenção é o slow fashion.
Quando falamos em poluição, é comum que as pessoas pensem apenas em petróleo e agropecuária, entretanto, por mais que elas demandem muitos recursos naturais, elas não são as únicas associadas à poluição. Por exemplo, você sabia que a indústria da moda é a segunda maior poluente?
De acordo com uma matéria da BBC, o poliéster usado na confecção de peças de roupas, utiliza cerca de 70 milhões de barris de petróleo todos os anos, com o agravante de demorar mais de 200 anos na decomposição. Impressionante não é mesmo?
Os números são alarmantes, e isso sem contarmos os efeitos em cadeia como o uso de aditivos químicos e os gases jogados na atmosfera, sendo igualmente prejudiciais. Diante de um quadro como esse, um movimento intitulado slow fashion surgiu para tentar minimizar tais efeitos e trabalhar em cima de um conceito de consumo sustentável.
Neste artigo, explicaremos a você o que é esse conceito e quais as suas vantagens e desvantagens!
Como o slow fashion surgiu?
Uma das primeiras pessoas a definir o movimento slow fashion foi a professora e consultora Kate Fletcher em sua obra “Sustainable Fashion and Textiles: Design Journeys” (“Moda e Têxteis Sustentáveis: Jornadas de Design”, em português), em meados de 2008. Outro nome importante é o de Angela Murrills, escritora na revista londrina Georgia Straight, que já trabalhava com a ideia de slow fashion desde 2004.
Na tradução literal, a expressão significa “moda lenta”, sendo que o movimento incentiva a maior consciência nos produtos consumidos, valorizando desde a maneira como eles são produzidos até o respeito à diversidade e tradições (raízes). Ela propõe uma alternativa ao fast fashion, promovendo não só o consumo sustentável, mas também ético.
Slow fashion x Fast fashion
O fast fashion, como é conhecida a produção de maior parte das roupas no mundo globalizado, tem como foco a fabricação em massa. Isso se traduz em pouca ou nenhuma preocupação com impactos ambientais e sociais, mão de obra barata e desenvolvimento de dependência dos consumidores. É de onde vem a maioria das tendências da moda.
Ao se posicionar como contrário a essa prática, o slow fashion unifica as coisas consideradas ecológicas, éticas e verdes, intervindo diretamente no processo do mundo contemporâneo, que está pautado no descartável e nas novidades. É uma opção socioambiental aceitável.
Como sabemos, o planeta já não comporta mais a forma de consumo desenfreada do ser humano, que inclusive já vem sofrendo com as consequências disso. Tal realidade é clara com o aumento do aquecimento global, poluição excessiva do ambiente e os inúmeros efeitos trazidos aos seres vivos de maneira geral, tais como doenças respiratórias.
Principais características do slow fashion
Entender quais são as principais características do slow fashion é importante para você saber como implementá-lo na sua empresa e entender o que você deve procurar em fornecedores e empresas parceiras.
O fast fashion pode ser caracterizado por:
- Valorização dos recursos naturais: há uma preocupação em utilizar matérias-primas e produtores locais. Além de ser uma forma de incentivar os pequenos produtos e movimentar a economia local, as empresas ainda podem aproveitar os recursos naturais disponíveis de forma planejada, peças exclusivas e únicas;
- Produção transparente e sem intermediários: quando o número de intermediária na cadeia produtiva é muito grande, o preço final do produto pode ficar muito maior para o consumidor. Neste caso, a forma como a produção é realizada é totalmente transparente e o número de intermediários muito menor. Ou seja, as empresas negociam diretamente com os produtos. Sem falar que passa maior credibilidade para os clientes que conhecem a procedência dos produtos;
- Produtos sustentáveis: o slow fashion tem como foco produzir peças atemporais, que não saem de modo e, portanto, podem ser utilizadas por mais tempo, diminuindo o consumo. Além disso, outra prática bastante comum é o remendo nas roupas, o que também permite que você utilize a peça por mais tempo;
- Preocupação não apenas nas roupas: etiquetas e embalagens também fazem parte da preocupação no slow fashion, sendo produzidos a partir de materiais recicláveis e biodegradáveis.
As vantagens do movimento slow fashion
Agora que você já sabe o que é o slow fashion, das diferenças dele para o fast fashion, vamos falar um pouco sobre as principais vantagens desse movimento. Afinal, é importante ter uma noção ampla de como as ações funcionam, tanto para decidir sobre o consumo quanto sobre o empreendimento na área. Confira a seguir um pouco mais sobre os principais tópicos!
Redução do desperdício
Segundo um estudo da Environmental Health, divulgado em dezembro de 2018, cerca de 85% das peças de vestuário consumidas pelos norte-americanos vão parar em aterros sanitários. Isso se deve especialmente ao fast fashion, que tem como foco produzir peças com qualidade inferior, da tendência da moda.
Sem falar que a indústria ajuda a promover tanto o apego quanto o descarte rápido. Ou seja, as pessoas já compram as peças pensando em utilizá-las por pouco tempo e em trocar na próxima estação.
Logo, uma das maiores vantagens do slow fashion é justamente a redução de desperdícios, não apenas por incentivar o remendo das peças, como também por produzir itens que durem mais e que possam ser utilizados a qualquer momento, independentemente da tendência da estação.
O slow fashion também é responsável por levantar a bandeira de consumo sustentável de peças feitas por meio de processos mais ecológicos, através da reutilização maior do vestuário. Inclusive, incentiva as aquisições de segunda mão, evitando assim o descarte dos itens de maneira precoce.
Incentivo aos negócios locais
Outra vantagem que o slow fashion traz e que causou uma profunda ruptura no modelo de produção em série, é que há um maior incentivo aos negócios locais. Assim, as pequenas empresas da região são contratadas de modo a valorizar as comunidades e promover oportunidade de trabalho e valorizando a produção dos pequenos produtores.
Assim, os empresários têm a possibilidade de incentivar pequenos produtores, empregar mais pessoas de uma determinada região, o que resulta na maior movimentação da economia e crescimento econômico da região. O resultado disso é que as pessoas se sentem mais valorizadas, sem falar que ajuda a promover a cultura local para outras regiões.
Maior conscientização
A prática da consciência também está entre os objetivos do slow fashion. Isso significa que vários setores da vida em sociedade serão trabalhados, bem como as individualidades serão mais respeitadas e valorizadas.
O fato do movimento prezar por um cuidado maior com o meio ambiente e com as próprias pessoas, incentiva uma ação mais responsável. Ou seja, é cada vez maior o número de pessoas levadas a ter aspirações de mudar o mundo de maneira criativa e inovadora, refletindo isso para o seu entorno.
Diversidade
Sabe quando entramos nas lojas de fast fashion e parece que tudo é igual em todas? Pois bem, uma das vantagens do slow fashion é justamente a diversidade de produtos. Isso acontece porque, como os itens são produzidos com base nos recursos regionais disponíveis, eles podem mudar conforme a estação do ano e as condições climáticas.
Isso faz com que menos peças de cada produto sejam produzidas, tornando as mais exclusivas. Ou seja, não é possível repetir a produção dos mesmos itens em mais de uma estação. Essa exclusividade permite que os consumidores sempre encontrem itens diferentes e únicos nas prateleiras e araras.
As desvantagens do movimento slow fashion
Assim como qualquer outra coisa, o slow fashion também possui as suas desvantagens. Conhecê-las permitirá que você possa analisar se um negócio nesse ramo é realmente viável e se vale a pena optar por esse tipo de consumo. Confira a seguir.
Não agrada a todos os públicos
Como falamos anteriormente, o slow fashion não tem como foco as grandes tendências da moda, focando mais na produção de itens atemporais. Portanto, você definitivamente não vai conseguir atrair esse público para a sua loja.
Dito isso, é essencial que você faça uma pesquisa antes de investir nesse tipo de negócio, afinal, você precisa primeiro entender se haverá um público interessado em consumir esses produtos. Caso contrário, por mais que a ideia e o conceito do slow fashion sejam bons, uma empresa não sobrevive sem lucros.
Alto custo
Quando falamos em incentivar os pequenos produtores e empresários locais, as pessoas provavelmente imaginam que esse é o melhor dos mundos. Entretanto, o empreendedor precisa conhecer os custos desse tipo de produção. Com menor disponibilidade de matérias-primas, menos pessoas trabalhando para produzir as peças e utilização de produtos e tecnologias menos poluentes, o custo de produção aumenta consideravelmente.
Com custos mais altos, é natural que o preço final para o consumidor também seja maior, mesmo que haja menos intermediários na cadeia produtiva. Por isso, o público que consome os produtos do slow fashion consiste mais em pessoas que optam por pagar mais caro para ter produtos produzidos com essa preocupação ambiental.
Cuidados com as peças
Outra coisa que é preciso ficar claro é que muitas peças produzidas no slow fashion precisam de cuidados específicos para durarem mais tempo. Afinal, elas são produzidas com outros materiais.
Isso é um fator importante que deve ser levado em consideração, já que isso poderá influenciar diretamente a decisão dos seus clientes. Já que eles precisam de mais praticidade, então essa pode não ser a melhor opção para eles. Ou seja, vai interferir diretamente em quem é o seu público-alvo.
As principais marcas de slow fashion
Se você está pensando em investir e abrir um negócio no ramo de slow fashion, então não há nada melhor do que exemplos práticos para entender o que é e como funciona o movimento. Sem falar que, essas marcas ainda podem funcionar como grandes inspirações de trajetórias de sucesso.
Descubra alguns nomes importantes do slow fashion no Brasil e no mundo, e entenda as propostas de cada marca!
Karmen
O nosso primeiro exemplo de empresa de slow fashion é a brasileira Karmen que traz uma proposta contemporânea e urbana com muita inspiração no Hip Hop e na cultura pop geral. Para evitar o desperdício de matéria-prima, a marca reutiliza tecidos de qualidade que seriam descartados por mercados diversos. Assim, além de fazer com que as peças durem mais, é possível fabricar itens de alta exclusividade e em quantidade limitada.
Heloisa Faria
A estilista Heloisa Faria encontrou no upcycling uma maneira de fazer moda sustentavelmente. Seu trabalho inclui tecidos vindo de produtores regionais, reutilização de matéria-prima e regulamentação justa em todas as etapas de produção — como deveria ser em qualquer empresa. Além disso, a loja física localizada em São Paulo disponibiliza espaço para que outras marcas com valores similares vendam seus produtos.
Flávia Aranha
Um dos princípios do slow fashion é a transparência, quesito no qual a marca de Flávia Aranha se sai muito bem. A empresa é certificada pelo Sistema B, que atua no mundo todo para identificar a transparência de marcas quanto a seus processos internos. Outra grande conquista foi a estreia na São Paulo Fashion Week, no ano passado!
MyFots
Pensada pela estilista Tatiana Marcondes, a MyFots traz um conceito atemporal e durável. As peças são desenvolvidas para durarem uma vida inteira, enquanto proporcionam conforto e exclusividade de design. Desde 2017, a empresa também trabalha com roupas para crianças de 3 meses a 2 anos.
Georgia Halal
Indo para um lado social, além do ambiental, a Georgia Halal tem a conexão feminina como o propósito da marca. A ideia é se conectar e empoderar mulheres, para então guiá-las ao novo tipo de consumo que são ao mesmo tempo melhores para elas e para o planeta como um todo.
Insecta Shoes
Os sapatos também têm vez no slow fashion! A Insecta Shoes fabrica calçados inteiramente veganos, a partir de materiais recicláveis e esquecidos pela indústria convencional. A liberdade de gênero é outra proposta da marca, já que todas as suas peças são oferecidas como unissex, sem distinção entre masculino ou feminino.
Reserva
Um dos nomes mais conhecidos no país é a carioca Reserva, que aplica vários conceitos do slow fashion em seus produtos. Isso inclui uma linha feita completamente de algodão reciclado, produção 95% brasileira, manifestações e apoio a diversas causas sociais e muito mais. As roupas seguem um padrão moderno e com grandes inspirações da cultura pop, como o Karmen.
Ginger
A Ginger foi criada pela atriz Mariana Ruy Barbosa e pela publicitária Vanessa Ribeiro em 2020. Para a produção das peças são utilizados fios reciclados de etiquetas, as ecobags também são feitas a partir de materiais biodegradáveis.
Todos os produtos da marca possuem produção nacional e são feitos com matéria-prima brasileira. Sem falar que a marca não segue o calendário oficial da moda, se preocupam em gerar roupas atemporais.
Cottage Store
A Cottage Store é uma loja de roupas que tem como público-alvo mulheres focadas em conforto. Todas as suas roupas seguem uma temática bucólica e romântica e podem ser utilizadas em qualquer ocasião. As peças são todas feitas à mão, são 100% algodão e o tingimento ainda é natural. Sem falar que todos os botões e ponteiras são produzidos a partir de materiais sustentáveis.
Mas o slow fashion não pára por aí. Na entrega as peças são embrulhadas em papel pardo, sem que seja necessário utilizar plásticos. E as etiquetas das roupas são produzidas a partir de papel semente.
A aplicação do conceito de slow fashion no dia a dia
Diante de tudo isso, você provavelmente está se perguntando como as lojas e marcas podem se adaptar a esse conceito de slow fashion para a sua realidade? Existem diferentes maneiras de incentivar tal tipo de consumo, começando pelo auxílio do vendedor aos clientes em suas escolhas, indicando peças que poderão ser facilmente aplicadas em seu dia a dia. É preciso valorizar a criatividade na hora de compor os looks, tentando novas combinações e variando o uso das peças.
Outra questão importante é educar o consumidor sobre os cuidados com as roupas, visto que elas foram feitas para durar, mas requerem alguns procedimentos específicos para manterem as suas características. Por exemplo, é preciso ensinar como lavar, passar e manusear cada tipo de material.
Desta forma, você estará demonstrando a preocupação verdadeira com a durabilidade do produto, um dos pontos essenciais a serem ressaltados durante a venda. Isso também aumenta a credibilidade da sua marca na visão do cliente, já que você passa a impressão de profissionalismo.
Mais um ponto a ser levado em consideração é em relação com fornecedores. Procurar fornecedores e produtores que seguem os moldes de produção slow fashion é uma forma de valorizar o trabalho deles e contribuir com a sustentabilidade na moda. De nada adianta aplicar um conceito de sustentabilidade se metade do processo ainda é pautado no modus operandi do fast fashion.
Futuro pós-pandemia
Durante a pandemia pelo novo coronavírus vivemos uma situação tão delicada globalmente, que era difícil imaginar como seriam as coisas depois que a pandemia finalmente acabasse. Por muito tempo, todos os esforços estavam voltados ao combate à doença e no apoio ao isolamento social.
Isso resultou na mudança no comportamento de muitos consumidores, que passaram a comprar produtos online, perceberam que possuíam mais coisas do que precisavam, começaram a repensar os seus hábitos de consumo, dentre outros. Hoje em dia, com a pandemia sob controle, mas ainda representando um risco para a sociedade, as atividades do comércio estão regulares, apenas com algumas restrições e regras que devem ser seguidas.
Justamente por essas mudanças no comportamento do consumidor é que o slow fashion tende a crescer. Isso se deve principalmente pela grande durabilidade das peças, quanto pelos princípios por trás desse conceito. Há dois sentimentos gerais que já podem ser observados entre milhões de pessoas: o apego ao que é consistente e a preocupação com o planeta. Que são duas coisas pelas quais o movimento slow fashion preza.
Por isso, a visão do futuro é de mais cuidado com o meio ambiente e com nós mesmos. Não há como conciliar por muito tempo essas responsabilidades com o consumo desenfreado que é incentivado majoritariamente hoje em dia. Tanto na moda quanto em diversas outras áreas, as marcas que se voltarem para um olhar socioambiental terão muito mais chances de conquistar a confiança do público.
Novas visões
Alternativas novas de negócio também são uma tendência a ser aproveitada. Que tal investir no aluguel de roupas ou mesmo em uma linha apenas com peças de segunda mão? Já existem empresas trabalhando com essas ideias, portanto é certo de que já existe um público confirmado para esse tipo de demanda.
Ainda, você pode oferecer o serviço de remendo para as peças da sua marca. Assim, se o cliente precisar de qualquer reparo na roupa, ele sabe que pode contar com você e que a preocupação será a mesma de quando as peças foram produzidas.
Ou seja, você incentiva o cliente a ir até a sua loja, o que pode ser uma oportunidade para vender mais algum item para ele. Sem falar que aumenta a confiança que ele tem na marca e as chances de fidelizá-lo. Confira outras dicas para encantar e fidelizar os seus clientes no nosso e-book.
O slow fashion traz para a sociedade a oportunidade de desenvolvimento de um pensamento sobre as novas possibilidades da moda. Os pilares mais importantes são os do consumo sustentável, da diversidade e do incentivo aos pequenos produtores. Como está passando por uma evolução, a ideia é que cada vez mais pessoas tenham acesso a ele e se conscientizem da importância que a ética tem na hora de comprar roupas.
Com criatividade e pesquisa, você pode encontrar inúmeras maneiras de promover o slow fashion, tanto como uma marca criada do zero quanto na adaptação do que você já tem. Lojas de roupas em funcionamento podem adaptar uma seção para iniciar essa fase, também! O armário cápsula pode ser considerado uma boa opção, por exemplo. Confira no nosso artigo mais sobre o assunto!
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